segunda-feira, 28 de maio de 2012

O SIGNIFICADO DA MORTE DE CRISTO

Introdução
No Antigo Testamento, a palavra “expiação” é a tradução literal do termo hebraico kippur que é empregado no AT sempre no plural (kippurim).[1] Sua raiz é o termo kaphar (cobrir), cujo sentido é dado pelo seu radical intensivo kipper (remir; tirar tudo o que cobre e empana [a alma] de ser vista em seu estado puro por Deus).[2] É daí que vem o sentido secundário de “perdoar”. Quando se perdoa, deve-se esquecer qualquer ranso de culpa que o perdoado tenha com quem o perdoa.
Na LXX, o termo verbal que verte o sentido de expiar para o grego é eksilaskomai que não é empregado no NT. Seu substituto no NT é a sua forma simples hilaskomai que significa “propiciar”, ou seja, fazer propiciação, daí hilasterion (propiciatório). 
A EXPIAÇÃO 
A expiação da culpa do pecado é uma exigência de Deus para o homem pecador, para que ele esteja sempre dentro do limite da longanimidade divina e não sofra o peso da Ira de Deus sobre ele, por causa dos pecados cometidos. É nesse mesmo entendimento que as nações pagãs sacrificam suas vítimas para aplacar ira de seus deuses[3].
É nesse sentido que Paulo vê a morte de Cristo, ou seja, como expiatória (Rom 3:25). Em várias referências, ele associa distintamente a morte de Cristo com o ritual e conceito de sacrifício do Velho Testamento. Ele faz uma alusão direta à oferenda de pecado que era apresentada pelo Supremo Sacerdote no grande Dia da Expiação. Paulo descreve a morte de Cristo como “oferta e sacrifício a Deus, em cheiro suave” (Ef. 5:2). Em Cristo, Deus fez o que a Lei não poderia fazer com o pecado: “enviando a seu próprio Filho em semelhança da carne do pecado, e por causa do pecado, na carne condenou o pecado” (Rom. 8:3). As palavras “por causa do pecado” (peri hamartias) provavelmente se referem à morte expiatória de Cristo, um fato que é reconhecido, pela leitura alternada da RSV, “como oferta pelo pecado”. Novamente Paulo fala de Cristo como nosso cordeiro pascal, que foi sacrificado (1 Cor.5:7).
O aspecto expiatório da morte de Cristo é visto nas frequentes referências ao seu sangue. Deus fez com que Cristo fosse a propiciação através de seu sangue (Rm. 3:25); somos justificados pelo seu sangue (Rm. 5:9); obtemos a redenção através de seu sangue (Ef. 1:7); nos aproximamos de Deus pelo sangue de Cristo (Ef. 2:13); obtemos a paz através do sangue de sua cruz (Col. 1:20).
Jesus verteu todo o seu sangue na Cruz do Calvário. Ele morreu à míngua, exague, já que teve várias hemorragias internas. Teve sede, o que caracteriza a perda de sangue arterial. Ao ser   ferido pela lança, o pouco de sangue que ainda estava em seu corpo saiu juntamente com água, pois faltava-lhe o elemento principal de sua composição – as hemácias.[4]
A Morte de Cristo também foi vicária. Ao morrer por nós, pecadores, sua morte tornou-se vicária (1 Ts 5.10). Em Rm 5.8, Ele morreu por nós, quando ainda éramos pecadores. Em Rm 8. 32, Ele se deu a si mesmo por nós. Em Ef. 5.2, Ele se fez maldição por nós. Quando Paulo afirma que Deus fez de Cristo “pecado em nosso favor”, é que Cristo voluntariamente veio sob a mancha do pecado, penetrou em sua mais profundas trevas, e compartilhou com os homens seu terrível peso e pena.
A morte de Cristo também foi substitutiva. Ao morrer na cruz por cada um de nós, sua morte torna-se substitutiva. Verdadeiramente, cada um de nós deveria enfrentar o juízo de Deus sobre o pecado e, consequentemente, como não podemos nos livrar humanamente de sua condenação e culpa, fez-se mister que ele se apresentasse como o subtituto de cada um de nós, de per si. Isto fia claro no testemunho de Paulo quando arrazoa: “Porque dificilmente haverá quem morra por um justo; pois poderá ser que pelo [homem] bom alguém ouse morrer” (Rm 5.7).
A morte de Cristo também foi propiciatória. Isto é, ela nos fez chegar diante de Deus e alcançar o Seu favor. A propiciação lembra a graça, a qual, no AT, era demonstrada de modo reticente. Em Cristo, pela sua morte propiciatória, ela se faz eterna e, assim, podemos estar sempre diante do trono de Deus, em graça. Esta graça tão maravilhosa não só está presente na conversão do pecador, mas se faz presente durante seu dia-dia e culminará com seu efeito maior e eterno, no dia do juízo, quando seremos livres da Ira de Deus, pois é Cristo quem nos livra da ira futura, como diz a Escritura:  “Logo muito mais, sendo agora justificados pelo seu sangue, seremos por ele salvos da ira” (Rm 5.9); “...e esperardes dos céus a seu Filho, a quem ele ressuscitou dentre os mortos, a saber, Jesus, que nos livra da ira vindoura” (1 Ts 1.10).
A morte de Cristo também foi redentora. Há quatro termos gregos que apontam para este sentido: lutron, apolutrosis, agorazo e exagorazo. Os dois primeiros respondem por liberdade, alforria. São formas derivadas de luo (soltar, libertar, livrar). O pecador é livre por quem pode livrá-lo, por duas condições. Por um lado, ele está preso a Satanaz, por haver cedido às suas tentações e perdido a glória de Deus, tornando-se vulnerável aos  ataques do Inimigo. Ao confiar em Cristo e clamar por Seu Nome, o pecador é por ele liberto das garras do Inimigo e readquirido por Deus, em Cristo. Por outro, ele é alforriado, deixando de ser um simples servo rebelde e desobediente a um Senhor que não deseja que ele pereça, mas que, por Santa Justiça, irá condená-lo ao inferno, por não ter feito de Cristo o aplacador da ira de Deus, justo Juiz, sobre ele e seu pecado. É como disse Jesus: “Já não vos chamarei mais servos....” (João 15.15).
Os dois últimos termos -  agorazo e exagorazo, respondem por compra e resgate de algo em hipoteca. Agorazo era o verbo empregado pelos compradores de escravos. Dentre esses compradores havis aqueles que, sendo bons e possuindo riquezas, faziam-se presentes nos mercados ou leilões de escravos para comprá-los e, com documentos de alforria, dar-lhes a liberdade. Exagorazo,  por sua vez, dizia respeito ao ato de resgate de hipotecas de algo de valor que ficava no penhor e deveria ser resgatado antes que houvesse a perda do seu valor fixado no momento da hipoteca. Em geral, os banqueiros e financiadores daquela época tudo faziam para encarecer o valor atribuído no momento da hipoteca. Ficava muito difícil para o pretendente resgatar essa hipoteca. Imagine o preço superfaturado pelo pecado e pelas paixões infames e pelo ato rebelde de escolha para viver todo o tempo anterior em rebeldia contra Deus, o que encarecia e superfaturava o resgate. Mas Ele pagou esse preço. Centavo por centavo, para que nos readquirisse a fim de podermos estar na sua presença para sempre, em glória, em seu reino. Oh, glória!!!
A salvação torna-se, de igual modo, supervalorizada, por semelhante audácia, pela ousadia de Cristo em enfrentar a cruz e, por ela, a morte. A nossa salvação não tem preço a ser pago em moeda humana. Seu preço já foi pago por Cristo por toda a eternidade.
Amados, valorizemos a nossa salvação.
P.S. E se você que está lendo este estudo ainda não se encontra salvo em Cristo, ainda não fez sua confissão de pecador e ainda não clamou pelo nome de JESUS, a hora é esta. Não fique confiando em sua justiça, pois, nossa justiça vem de Deus, por Cristo, e só Ele nos faz justificados dos nossos pecados e faltas. A morte de Jesus foi real, pois Ele moreu como homem, e homem puro, sem pecado. por isso Ele pode salvar aqueles que, humildemente, reconhecem seu senhorio e seu poder de salvar. 
Tenha fé em JESUS, e Ele o salvará agora neste instante em que você está lendo este estudo.
O próximo estudo será sobre a nossa justificação e reconciliação. 
É bom de mais. Deus o abençoe com as bênçãos dos céus e com a bênção do perdão em Cristo Jesus. Amém!   


[1] Provavelmente seja o fato de que, como os pecados são cometidos, segundo a visão teleológica judaica, vários deles ao mesmo tempo ou se encontram acumulados, há a necessidade de se fazer uma expiação completa a cada vez que o interessado busque a mediação sacerdotal.
[2] Esta é a visão Talmúdica acerca do Yom Kippur. O termo no plural, na prática, enfatiza “expurgo completo” de todas as faltas, transgressões e culpa.
[3] Ainda hoje há povos que realizam sacrifícios de animais com tal objetivo, embora saibamos que só o Senhor é Deus.
[4] Discordo plenamente de Ladd, pois em Cristo, nada foi figurado; foi realidade eterna. A vítima tinha que verter todo o seu sangue, pois o sangue representava a alma do animal. E só a ‘alma’ pura do animal poderia fazer expiação pela alma humana. Jesus, por ser completamente puro, pôde, com seu sangue, fazer expiação pelas nossas almas, propiciando-nos, com isso, a remissão. A única figura que há com relação ao Seu sangue é o vinho que tomamos na ceia que simboliza o sangue de Cristo realmente derramado no Calvário.
  

terça-feira, 22 de maio de 2012

CRISTO E SEU REINO MESSIÂNICO


A opinião de Paulo acerca de Jesus Cristo, o Messias, mudou radicalmente, após a sua conversão. Mudou também com relação à salvação e à Lei.  Para Paulo, o termo Christos estava inserido na própria pessoa de Jesus. Ele o chama de Jesus Cristo, embora sabendo que é um título, mas o insere na pessoa de Cristo, como podemos ver em Rm 3.24.
Como Messias, Jesus teria que estar reinando ou reinar em uma determinada época ou era. A priori, o Reino de Cristo, para Paulo, começou na sua ressurreição. E terminará quando houver “...posto todos os inimigos debaixo de seus pés” (1 Cor 15.25).
Ao receber do Pai todo o poder no Céu e na Terra, Jesus torna-se Rei, e permanece Rei até quando a morte for aniquilada, ocasião em que devolverá ao Pai o comando de todas as ações previstas no sábio conselho de Deus. A rigor, Cristo, segundo Paulo, preenche um hiato, aberto com a queda de toda a Criação.[1]
Para Paulo, o reino do Cristo glorificado não é um reino apenas de graça e bênção sobre a Igreja; é também de força e sujeição sobre todos os poderes espirituais.[2]
Entretanto, de acordo com o pensamento paulino, esse Reino, que para ele já começou com a sua ressurreição, terá uma atividade messianocrática[3] em que os “mansos” que herdarem a terra prometida (Mt 5.5 e Is 57.13; 60.21; 61.7; 65.9), usufruirão desta bênção escatológica (1 Cor 6.9,10; 15.50; Gl 5.21). É quando reino e glória estarão juntos; quando as nações trarão glória e presentes ao Rei Jesus.
A questão é que o aniquilamento da morte e do inferno só ocorrerá, segundo a doutrina de Paulo, após a vitória sobre o anticristo, o qual será aniquilado pelo sopro da sua boca e destruído pela manifestação da sua vinda (2 Ts 2.8).
Apesar do sistema iníquo de cujo meio surgirá o anticristo já está atuando no mundo desde a assunção de Cristo aos céus à destra do Pai (2 Ts 2.7), este personagem, que é segundo a eficácia de Satanás, só se manifestará na sua totalidade maligna após a partida de alguém muito especial que se encontra restringindo a atuação plena desse sistema e da manifestação desse anticristo.
Alguns estudiosos têm visto neste restringidor a pessoa do Espírito Santo que nos foi deixada a nós, como Igreja, com vistas à sua defesa diante desse sistema que já opera no mundo, e sua preservação como nação santa. Ao retirar-se do mundo, com a Igreja arrebatada, condição sine qua para que Ele se retire, não havendo qualquer outra possibilidade bíblica ou teológica, o Iníquo se manifestará ao mundo, já sem a Igreja presente, o que facilitará sua atuação e sua operação maligna para com os que “não receberam o amor da verdade para se salvarem (v. 10) e a quem “Deus enviará a operação do erro para que creiam a mentira” (v. 11).
O envio dessa operação do erro, “matricializada” na pessoa do Anticristo, tem um objetivo santo e justo: “Para que sejam julgados todos os que NÃO creram a verdade, antes tiveram prazer na iniquidade” (grifo nosso) (v. 12). Esse advérbio de negação valoriza o processo que se desenrolará com a presença do anticristo e sem a presença daquele que garante e sela a salvação do salvo. Trata-se de um mundo totalmente perdido, pelo que não se concebe a presença de um Israel terreno ainda por se salvar. Este Israel terreno pode já estar contido no Reino de Cristo como também pode estar fora dele para sempre, se estiver no mundo do Anticristo.
Surge uma outra questão: Não haverá uma terceira vinda. Se a manifestação de Cristo na qual o Anticristo é destruído e seu poder aniquilado for a sua Segunda Vinda, então entende-se que a visão pre-milenista não é de todo uma heresia. Segundo Paulo, esta doutrina permanece em suspense, ao passo que, na Revelação a João – o Apocalipse – que veio para revelar e não para velar (cobrir, ocultar), Jesus deixa claro que após o milênio, não mais retorna à Terra, pois o seu Trono estará em um lugar diferente da Terra e céu (Ap 20.11), de onde julgará os vivos e os mortos.
Mas como explicar o “arraial dos santos” e a “cidade amada” onde estão pessoas salvas, eleitas, que são defendidas por Deus com fogo do céu (Ap 20.7)? Seriam estes o povo da Igreja arrebatada?

Me ajuda aí......



[1] “Porque sabemos que toda a criação, conjuntamente, geme e está com dores de parto até agora. E não somente ela, mas nós mesmos, que temos as primícias do Espírito, também gememos em nós mesmos, esperando a adoção, a saber, a redenção do nosso corpo” (Rom 8.22,23).
[2] Ladd G. E. Teologia do Novo Testamento, S. Paulo. Ed. Hagnos, p. 385.
[3] Neologismo deste pensador, pois, segundo o entendimento judaico, o Messias viria para reinar absoluto, como ensinavam os rabinos, seguindo o modelo Enoquiano.

quinta-feira, 17 de maio de 2012

O VALOR DA TERCEIRA IDADE PARA A FAMÍLIA


Em geral, em quase toda a casa há, pelo menos, um idoso. Em algumas, há até mesmo um casal de idosos. O fato é que em todas as famílias há sempre pessoas da terceira idade. São o vovô, a vovó, ou um tio ou uma tia que envelheceu e não chegou a ter filhos para deles cuidarem na velhice.
A Bíblia nos dá testemunho a respeito da segurança que uma pessoa pode ter de envelhecer bem e ter o amparo necessário até sua partida deste mundo. Davi, o rei de Israel, faz a seguinte afirmação:

“Fui moço e agora sou velho; mas nunca vi desamparado o justo, nem a sua descendência a mendigar o pão” (Sl 37.25).

Na sua casa mora alguém da terceira idade? Na sua família existe um membro da terceira idade? Nos dias de hoje, é um fato presente a convivência direta com alguém da terceira idade. Até porque o número de idosos aumenta a cada ano. E também as condições de vida, saúde e recursos tem sido muito generosas, a ponto de conceder melhores condições para uma boa sobrevivência.
Nesta nossa abordagem vamos procurar abordar a questão do idoso dentro do âmbito familiar. Mas, para isso, é preciso, primeiro, fazer uma rápida abordagem sobre a família.
O Pr Irland, na apresentação do Livro, A FAMÍLIA NA BÍBLIA, de autoria do Pr Gilson Bifano, faz a seguinte afirmativa: “Se desejamos entender a família do ponto de vista cristão, precisamos analisar toda a sua trajetória ao longo dos relatos bíblicos”.
A origem da Família encontra-se no primeiro livro da Bíblia – Gênesis.
Antes da queda do Homem, Deus instituiu a Família, dando-lhe atribuições e responsabilidades.
O Pr Jorge Maldonado, terapeuta familiar, faz a seguinte observação: “O casamento e a família não estão vinculados ao Estado nem à lei e nem ao ato da redenção, mas à criação”.
De acordo com o livro de Gênesis, antes da queda, tanto o homem quanto a mulher tinham privilégios e responsabilidades iguais. Ambos foram criados por Deus, “à sua imagem e semelhança”. Com isto, homem e mulher participavam dos atributos divinos, ou seja: sabedoria, retidão e santidade. Ambos receberam a ordem de cuidar e dominar a terra. Homem e mulher ocupavam um lugar de honra no jardim do Éden. Antes da queda, o primeiro casal vivia em perfeita harmonia.
Após o ato da desobediência, marido e mulher começaram a ter uma nova visão, agora distorcida é claro, da vida, do amor, da sexualidade (Gn 3.7), e começaram a afastar-se da comunhão divina (Gn 3.8);
O primeiro conflito familiar ocorreu sob troca de acusações: ele colocou a culpa nela e ela, por sua vez, colocou a culpa na serpente.
Antes da queda, não havia qualquer sentimento de machismo ou feminismo, muito embora o homem tenha recebido de Deus a incumbência de ser o cabeça da mulher, ou seja, da família.
Podemos dizer que a queda afetou as bases do casamento e da família.
Após a queda espiritual da humanidade a violência se propaga e o clamor das injustiças chega ao céu, diante de Deus:

“A terra, porém, estava corrompida diante de Deus, e cheia de violência. Viu Deus a terra, e eis que estava corrompida; porque toda a carne havia corrompido o seu caminho sobre a terra. Então disse Deus a Noé: O fim de toda a carne é chegado perante mim; porque a terra está cheia de violência dos homens; eis que os destruirei juntamente com a terra” (Gn 6.11-13).

Mas a Família é preservada com Noé, pois entram na arca Noé, sua esposa, seus três filhos e suas três noras.
De Noé até Abraão, a família toma um amplo espaço no relacionamento com o Senhor Deus. Surge a família patriarcal, com laços fortes de clã, onde o mais velho é respeitado e obedecido, competindo a ele, inclusive, o juízo sobre os demais membros da família patriarcal.
A família de Abraão, antes da promessa, era formada pelo Pai e seus irmãos. A princípio, o relacionamento dessa família com Deus era perfeito. Mas o local onde eles habitavam não prestava e acabou contaminando a família de Tera, pai de Abraão. Tanto que, após a morte de seu pai, Deus tira Abraão daquele ambiente idólatra:

“Foram os dias de Tera duzentos e cinco anos; e morreu Tera em Harã. Ora, o Senhor disse a Abrão: Sai-te da tua terra, da tua parentela e da casa do teu pai, para a terra que eu te mostrarei” (Gn 12.1).

A partir de Abraão, porém,  os olhos do Senhor são fixados para a herança familiar – os filhos.
Enquanto não nasce Isaque, o verdadeiro herdeiro da Promessa, o Senhor não larga do pé de Abraão.
Antes de falarmos um pouco mais sobre as características das famílias patriarcais, podemos afirmar que o mesmo cuidado que Deus demonstrou para com a família de Noé também demonstrou para com a família de Ló.
Vamos procurar ver agora a questão do idoso dentro do âmbito familiar.
Há duas realidades intrínsecas no que diz respeito ao relacionamento da família com os integrantes da terceira idade:
1. O idoso tem suas necessidades e suas expectativas de vida, pelo tempo que ainda lhe resta sobre a face da terra.

2. A família nem sempre entende esse processo pelo qual o idoso passa durante essa expectativa de vida.
A família, de um modo geral, pode ser definida como um grupo enraizado numa sociedade na qual adquire certas responsabilidades sociais.
Atualmente, a família vem assumindo um papel importante no relacionamento com os seus idosos, à medida que o envelhecimento da população se verifica cada vez mais acelerado. Isso, inclusive, ainda é pouco estudado pelas ciências sociais.
A Constituição Federal de 1988 apresenta a família como base da sociedade e coloca como dever da família, da sociedade e do Estado “amparar as pessoas idosas assegurando sua participação na comunidade, defendendo sua dignidade e bem estar e garantindo-lhes o direito à vida”.
Neste sentido, cabe aos membros da família entender essa pessoa em seu processo de vida, de transformações, conhecer suas fragilidades, modificando sua visão e atitude sobre a velhice e colaborar para que o idoso mantenha sua posição junto ao grupo familiar e a sociedade.
No início, quando ainda os pais são jovens e até a meia-idade, eles é que cuidam dos filhos, provêm para eles os seus estudos e sua formação; Mas, depois de criarem os filhos, os pais entram na terceira idade envelhecem cada vez mais até o dia da sua partida deste mundo.
Pergunta-se: O que eles podem esperar de seus filhos e netos? Serem enviados para um asilo? Serem abandonados?
Voltando à Palavra de Deus, Davi afirma que nunca viu o justo ficar desamparado na velhice.
Na família patriarcal, isso jamais ocorreria, já que o patriarca era assistido não só pelos filhos e netos, como pelos seus mordomos e empregados.
Abraão deixou este mundo aos 175 anos de idade, em boa velhice. E foi sepultado pelos seus dois primeiros filhos – Isaque e Ismael.
Jacó também deixou este mundo aos 147 anos de idade e em boa velhice, também assistido pelos seus filhos e netos.
A família patriarcal mantinha o respeito e cuidava de seus idosos. Isso é refletido não só no testemunho de Davi, mas no testemunho que o apóstolo Paulo dá a respeito da avó de Timóteo.
“Trazendo à memória a fé não fingida que há em ti, a qual também habitou primeiro em tua avó Loide e em tua mãe Eunice e estou certo de que também habita em ti” (2 Tim 1.5).

Com as fragilidades que muitas vezes acompanham o processo de envelhecimento é comum surgirem conflitos entre os filhos quando a situação dos pais passa a lhes exigir novas responsabilidades e cuidados.
Mas a Palavra de Deus recomenda o cuidado para com os idosos, de um modo geral, e, em particular, dentro da família.
Olha o que Paulo recomenda a Timóteo:

“Não repreendas asperamente a um idoso, mas admoesta-o como a um pai...” (1 Tim 5.1).

É preciso que as famílias respeitem as necessidades da terceira idade, para que os idosos, no caso, seus pais, não se sintam um encargo para os filhos.
Por outro lado, os idosos devem se esforçar para não se deixar entregar à inatividade mórbida, buscando evitar, o máximo possível, o sentimento de dependência da família que, em geral, aflige o idoso.
Em geral, os idosos estão sempre naquela expectativa de receberem atenção e cuidados dos filhos e netos no momento em que perderem ou tiverem suas capacidades diminuídas, sendo este um fantasma constante a perseguir e preocupar os mais velhos.
Há algumas décadas atrás, o hiato entre os jovens e os idosos era muito amplo. Mas, com o tempo, novas condições de vida estão permitindo uma convivência mais estreita entre jovens e idosos.
À medida que a expectativa de vida aumenta, os de meia-idade se relacionam com os jovens e com os idosos, de modo que eles aprendem melhor a se relacionar uns com os outros.
A dependência entre as gerações, ao que tudo indica, se revela de duas naturezas distintas: de um lado a dependência material dos filhos que por precisarem cada vez mais e por mais tempo da proteção dos pais, não hesitam em aceitá-la, até por entenderem como obrigação. Do outro lado a dependência emocional dos pais, fruto do modelo familiar estabelecido. Neste modelo a família é entendida como uma forma natural de organização da vida coletiva, uma instituição estável da sociedade, sendo a união entre seus membros a principal responsável pela integração e harmonia da vida familiar.
Essa dependência se caracteriza no que se pode chamar de acordo tácito, ou seja, uma negociação na qual os pais acalentam a expectativa de obter no momento que necessitarem a retribuição pela dedicação oferecida à família.
As mudanças que estão ocorrendo nas representações de família nas novas gerações estão exigindo formas alternativas de convívio familiar e consequentemente a reformulação de valores e de conceitos.
A família brasileira do terceiro milênio está cada vez mais distanciada do modelo tradicional, no qual o idoso ocupava lugar de destaque. Estamos vivendo um importante período de transição e mudanças, no qual se faz necessário o entendimento das transformações sociais e culturais que vem se processando nas últimas décadas, para enfrentarmos o nosso próprio processo de envelhecimento dentro de expectativas condizentes com as novas formas de organização familiar. No entanto, qualquer que seja a estrutura na qual se organizará a família do futuro, há a necessidade de se manterem os vínculos afetivos entre seus membros e os idosos. Nesta fase da vida, o que o idoso necessita é sentir-se valorizado, viver com dignidade, tranquilidade e receber a atenção e o carinho da família.
Nesse relacionamento dos idosos com os jovens na família, temos que destacar a posição do sogro e da sogra e, consequentemente, do genro e da nora.
A Bíblia nos dá alguns exemplos.
Jetro foi um bom sogro. Ao ver a situação do genro na tomada das decisões junto aquele povão, ele dá alguns conselhos a Moisés, seu genro.
Já o sogro de Jacó – Labão – não foi um bom sogro. Explorou seu genro durante cerca de 21 anos e ainda queria matá-lo porque Jacó simplesmente queria independência daquela vida mesquinha.
Noemi, sogra de Rute, foi uma boa sogra. Sua nora se afeiçoou dela e pôde aprender muito com ela, com sua vida e testemunho acerca de seu Deus, tanto que ela não procurou outra coisa senão ficar com sua sogra e ser admitida como filha.
Sogros e sogras, sejamos como Jetro e Noemi, que viveram uma vida útil, chegando a agradar a Deus nos seus aconselhamentos a seus genro e nora respectivamente.
Genros e noras, sejamos como Moisés e Rute, que souberam ouvir seus sogros e sogras em momentos sérios de tomada de decisões.