segunda-feira, 9 de abril de 2012

Exegese Acadêmica e Exegese Pastoral

Para os estudantes da Bíblia, que desejam se orientar melhor na busca do recado que o Senhor tem para compartilhar com os demais irmãos de nossas igrejas ou com aqueles que necessitam de salvação, sedentos da água da Vida que é Jesus Cristo, fica o seguinte recado:

Exegese Acadêmica – é aquela que busca estudar o texto sob todos os aspectos que envolvem o seu conhecimento. Nela, o texto bíblico é analisado, partindo-se do texto original ou autógrafo.

Os textos do Antigo Testamento encontrados na Bíblia do exegeta são confrontados com os respectivos textos na Bíblia Hebraica, enquanto os do Novo Testamento encontrados na referida Bíblia são confrontados com os respectivos textos do Novo Testamento Grego.

O objetivo da exegese acadêmica é “saber do texto em si e por si mesmo”[1]. Sua meta é atingir os especialistas e estudantes da Palavra de Deus que buscam compreender o texto mais profundamente. O exegeta, neste caso, se vale dos dicionários, léxicos, analíticos, e de comentários de outros exegetas que já fizeram uma análise anterior do texto a ser abordado.

O preparo para o exegeta acadêmico vai desde o conhecimento da língua em que foi escrito o texto a ser abordado até o mais aprimorado conhecimento linguístico e filológico contido por trás do referido texto. Para tanto, outras leituras além da Bíblia Hebraica, no caso do Antigo Testamento, e do Novo Testamento Grego deverão ser feitas, visando à consolidação do sentido significântico[2], bem como do valor semântico encontrado nos termos constantes do texto abordado.

Embora haja livros especializados em comentários bíblicos, alguns até de versículo por versículo, nem sempre o texto lido encontra uma pura análise anteriormente feita, revelando total conhecimento na abordagem de termo por termo em cada versículo bíblico. Basta dizer que em cada Bíblia que ostenta uma determinada versão, não é raro encontrar-se falhas na abordagem de um texto ou termo, após um exaustivo preparo para elaboração de uma determinada edição.

Alguns exemplos este exegeta, ora professor desta disciplina, tem apresentado em alguns escritos, buscando alertar os estudantes da Bíblia para uma exegese sólida que não deixe resultados a desejar aos leitores da Bíblia.

1º exemplo: A Bíblia na versão SHEDD, em Êx. 14.8, traduz a expressão beyadh ramah como “afoitamente”. Já em Núm. 33.3, ela traduz a mesma expressão como “de mão elevada”. Este é, pois, o sentido real desta expressão. Por conseguinte, a leitura de Êx. 14.8 está equivocada. Chega a revelar um outro sentido que não o pretendido por Moisés, ao escrever o texto em lide.

2º exemplo: A mesma versão (SHEDD), em Êx. 21.8, traduz a expressão  ’asher lo’ ye’adahe como “que se comprometeu a desposá-la”, quando o texto claramente emprega o advérbio negativo (lo’) que dá o sentido como “que não a desposou”.

3º exemplo: A mesma versão (SHEDD), em Lev. 18.18, traduz o termo ahhotahe (sua irmã) pelo termo “outra”. Ao que parece, houve um equívoco na tradução do termo ahhotahe (sua irmã), que provavelmente foi confundido com o termo ahheret (outra).

A versão Shedd, portanto, assim lê: “E não tomarás com tua mulher outra, de sorte que lhe seja rival, descobrindo a sua nudez com ela durante sua vida”.

Todavia, pelo texto hebraico, a tradução é: “E não tomarás uma mulher juntamente com sua irmã, durante a vida desta, para tornar-lhe rival, descobrindo a sua nudez ao lado da outra”.

4º exemplo: A mesma versão (SHEDD), em Lev. 11.20, faz a seguinte leitura: “E todo inseto que voa vos será imundo; não comereis”. Esta interpretação coloca o profeta João Batista como exercendo seu ministério e sendo imundo todo o tempo em que andou pelo deserto da Judéia.

Felizmente, o texto hebraico, embora use o termo sherets que é algumas vezes substituto de remes, está se referindo a répteis e não a insetos, já que o gafanhoto é um animal limpo para os judeus, segundo a lei mosaica.

Traduzir o texto bíblico requer conhecimento linguístico do idioma em que o texto foi escrito. Não se pode descurar disso. É a Palavra de Deus.

Os exegetas que se cuidem, pois, poderão estar interpretando o texto equivocadamente, devido a estes deslizes.
  

Exegese Pastoral – é aquela que se limita aos aspectos do texto cujo conhecimento se revela necessário para compreender o conteúdo e permitir a atualização da mensagem. Nela, o exegeta procura estabelecer uma certa ordem de precedência conforme o grau de importância que possa ter determinada informação sobre o texto para atingir seu conteúdo.

Em termos de pesquisa, a exegese acadêmica está para a pesquisa pura, assim como a exegese pastoral está para a pesquisa aplicada. E tratando-se da aplicação do texto a ser discutido ou pregado, faz-se mister que haja na biblioteca consultada obras que sejam bem intencionadas e versões que mais se aproximem do texto original ou autógrafo.

Assim entendendo, mister se faz também a busca do conhecimento revelativo que só o poder da oração pode dar, uma vez que o Espírito Santo nos foi dado para nos tornar aptos para entender os ensinos da Palavra de Deus, seja no Antigo ou no Novo Testamento.

Uma vez munidos destas ferramentas e com a unção do Espírito, busquemos entender a Palavra que será pregada ou ministrada como ensino, para que atinja o objetivo pretendido.



[1] SIMIAN, Horacio. Metodologia do Antigo Testamento (2000), Ed. Loyola, São Paulo, p. 14.
[2] Relativo ao termo significante, que traz o sentido primeiro, ou seja, o denotativo.

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