sábado, 10 de março de 2012

DISCREPÂNCIAS NA CRONOLOGIA BÍBLICA

De acordo com o TM (Bíblia Hebraica), se Adão estivesse vivo hoje, estaria com 6136 anos de idade. Já de acordo com a LXX (Bíblia Grega usada pela Igreja primitiva), Adão estaria com a idade de 7601 anos.

Onde reside esta discrepância cronológica? Esta é uma boa pergunta, uma vez que, no mundo antigo, cada povo ou nação tinha sua própria contagem de anos (Anus Mundi), cuja referência para os Ocidentais é o calendário Romano, ao passo que, para os Orientais (Extremo Oriente), é a ascensão de Buda, para uns e a organização da nação, para outros. Para os do Oriente Próximo, a coisa é mais apertada ainda, já que, para os Islâmicos, é a Hégira (Fuga de Meca por Mohamed); para os Iranianos, é o calendário Persa, instituído no ano 622 da nossa era; e para os Hebreus, é o calendário judaico adotado durante o cativeiro babilônico (586 a. C.), tendo como base para o ano 1 a data de 3.761 a. C., data esta considerada o início de Israel como nação.

Todavia, de acordo com a cronologia do TM, o ano 3.761 coincide com o ano em que Cainã, filho de Enos, teria 37 anos de idade. Já de acordo com a LXX, coincide com o ano em que Noé teria 187 anos. O que se pode observar é que a cronologia bíblica segundo a LXX é a mais próxima da verdade histórica, já que, segundo os relatos rabínicos, a nação de Israel teria surgido num determinado momento histórico em que uma profecia feita a Noé, o patriarca do novo Mundo, dizia respeito à constituição de Israel após o juízo sobre a humanidade que vivia antes do Dilúvio.

Segundo os ensinos rabínicos, a chamada de Abraão já fora predita a Noé (pouso, descanso de fadiga excessiva), em que o Eterno (Ehweh), o Eu Sou,[1] lhe teria declarado seu Propósito em dividir a terra de modo que Israel fosse plantado na área que seria a terra Prometida. Mais tarde, Pélegue (divisão, partição), pentaneto de Noé, seguindo o oráculo, em que uma revelação profética fora feita a seu pai (Heber), em cumprimento, providenciou a divisão da terra, na qual se estabeleceria o povo da Promessa feita a Noé. Nesta ocasião os cananeus começaram a se instalar na Canaã, para onde também acorreram os filisteus, ao saírem de Caftor, após terem sido libertados de seu primeiro cativeiro[2], levados de sua terra de origem – Caslui. Ao chegarem à Canaã, apossaram-se dos territórios litorâneos desde Gaza até Jope, destruindo os heveus e habitando em suas habitações.

Se esta pesquisa for correta, os Hebreus teriam realmente, hoje, 5772 anos e irão completar 5773 após as 18 hs do dia 13 de Setembro deste ano.



[1] Ehweh (forma aramaica que corresponde ao hebraico Ehyeh) é o nome adotado pelos sacerdotes pós-cativeiro para substituir Yhveh (hebraico Yhyeh). Esta forma verbal corresponde à 3ª pes. sing. masculino do verbo Hawah (hebraico hayah), portanto ‘Ele é’. Porém, o nome declarado a Moisés encontrava-se na 1ª pes e não na 3ª, como consta nas passagens após este encontro. Yahweh é mais linguístico do que filológico, já que translitera a pronúncia aramaica onde o shevá simples soa como o pathah furtivo (a), ao invés de (e). E para não grafar o Nome, o que seria uma irreverência para eles, foi adotado o tetragrama YHWH com a pronúncia de Adonai, donde Yehovah. Este articulista prefere Ehweh (Eu Sou).
[2] O segundo e último foi por Nabucodonozor, que os deportou para Babilônia

sexta-feira, 2 de março de 2012

O ATREVIDO VOTO DE JEFTÉ

Há alguns dias atrás, ouvi de alguém que o voto de Jefté foi cumprido à risca, tendo sua filha permanecido solteira por toda a sua vida. Mas, terá sido esse o voto de Jefté?  

O interessante é que um programa de TV que discute assuntos polêmicos de cunho religioso ou social, tratou desse mesmo assunto há alguns meses e houve quem interpretasse o texto dessa mesma forma, baseando seu argumento no fato de que o Senhor nunca pediu o sacrifício de alguém como holocausto. É como negar a presença dos anjos rebeldes de que fala Judas em sua Epístola, que pecaram entregando-se à imoralidade, sensualidade e dissolução, argumentando, para tanto, que no Céu seremos iguais aos anjos que não se casam nem se dão em casamento.

Um determinado site de características judaicas afirma que Javé nunca aceitaria o sacrifício de um ser humano, porque já havia determinado em Lev. 18.21 "...E da tua semente não darás ninguém para ser dedicado a Moloque..." e em 20.2: "Qualquer dos filhos de Israel... que der de seus filhos a Moloque, será morto; o povo o apedrejará.

Sem qualquer regra hermenêuica ou memo exegética, tenta-se comparar o Senhor Deus a Moloque, uma entidade cananéia que, segundo eles, era senhor da vida e da morte e cuidava da agricultura e da fertilidade no campo e nos casamentos.

Todavia, qual foi o voto de Jefté e porque ele o cumpriu à risca? Primeiramente, é bom lembrar que em Lev. 27.29, o Senhor determina: “Todo ser humano que for devotado como anátema[1] ao Senhor não poderá ser resgatado. Certamente morrerá”.

O voto de Jefté foi nos seguintes termos: “... Se, com efeito, me entregares os filhos de Amom na minha mão, aquele que sair pela porta da minha casa ao meu encontro, ao retornar vitorioso dos filhos de Amom, será do Senhor, e eu o oferecerei em holocausto”.

Jefté não imaginava que sua filha, única filha, sairia pela porta da sua casa, dançando radiante e com instrumento de som, louvando ao Senhor pela certeza da vitória do seu povo liderado pelo seu pai. Ele se sentiu perturbado diante da seriedade com que os votos eram tratados, uma vez pronunciados. Não havia outra saída, senão cumprir o voto declarado solenemente, e Jefté sabia disso – “vehayah layhovah veha‘alithihu ‘olah” (e será para o Senhor, e [eu] o oferecerei (farei subir)[2] em holocausto.

Sua filha pediu dois meses para chorar a sua virgindade e ele o concedeu. Ao fim dos dois meses, ele fez segundo o voto que proferira temerariamente. E ela foi imolada.

Um dos midraxes do povo do norte, descendente da família gileadita, descreve uma coreografia interessante, já que a morte desta jovem foi inevitável – daí o midraxe, no qual lamenta-se sua morte e sua dedicação ao Senhor, e por ter morrido virgem.
Os cristãos da Igreja grega Ortodoxa têm uma tradição em que Maria, ao ser entregue pelos que a traziam do templo de Jerusalém para José, o detentor da herança bacuriana  - primogenital davídica – sendo ele o único que fazia jus em resgatá-la, permaneceu ela por este tempo virgem, antes de ser possuída por José. E foi durante esse tempo que ela se achou grávida pelo Espírito Santo. Oh, Glória!


[1] O termo empregado no texto hebraico é hierem (lê-se rérem), da mesma raiz de hiormah (anátema).
[2] Trata-se do verbo ‘alah, no causativo, isto é, ‘fazer subir’. O emprego do verbo é metonímico, ou seja, toma a parte pelo todo: o sacrifício é enviado para o céu, daí ‘olah (holocausto).