segunda-feira, 20 de junho de 2011

UMA TRILOGIA INTRIGANTE

Sem dúvida, muitos de nós já lemos a Bíblia mais de uma vez e até chegamos a decorar alguns versículos e salmos inteiros. Todavia, há certas passagens que não nos chama à atenção – à priori, é claro – por faltar em nós o conhecimento teológico a respeito ou até mesmo aquela curiosidade de ligar textos de modo a formar uma idéia teológica sobre determinado assunto ali abordados. Assim é com relação às doze tribos de Israel, à participação de Judas na morte de Cristo e ao envio do bode expiatório ao deserto, para Azazel. O que têm tais assuntos em comum? O que os textos a eles referentes têm a ver um com os demais?

É realmente uma pergunta intrigante, um assunto que mexe conosco e nos faz lembrar uma trilogia.
O povo de Israel tem legado para a humanidade uma gama de fatos e conhecimentos que funcionam como uma verdadeira biblioteca a qual tem, ao longo dos vários milênios de história, permeado a cultura de várias nações antigas ainda hoje existentes e de outras tantas que já deixaram de existir há um bom tempo. As várias lendas mitológicas encontradas em vários povos nesse mundo são uma prova disso. Pode-se dizer mesmo que a historia do povo de Israel é uma fonte de profundos ensinamentos espirituais, embora tais ensinamentos tenham sido deturpados pelo fato da adoração devida ao Único Deus Verdadeiro ter sido direcionada para outros deuses, pagãos, que alimentam a superstição, a prostituição e a idolatria.

Desde o seu estabelecimento como nação escolhida por Deus, várias escrituras, além das que formam o cânone bíblico (AT), foram redigidas por sacerdotes com base em tradições orais e escritas, as quais explicam o contexto das narrativas que se encontram no Livro Santo e Inspirado – a Bíblia.
Mas, às vezes, ao lermos a Bíblia, há pormenores que nos escapam numa leitura superficial. Uma análise mais profunda, entretanto, nos permite recolher elementos que não apenas nos surpreendem, mas demonstram que o nosso Deus nada deixa ao acaso e todas as Suas ações são de grande significado e importância para o Seu povo – nós, cristãos. Assim, é o que se vê quando nos detemos nos textos que falam sobre as tribos de Israel, que foram nomeadas segundo os filhos de Jacó. E, dentre elas, uma merece destaque: a tribo de Dã.

As tribos, segundo a ordem de nascimento, conforme o relato bíblico, foram: Rubem, Simeão, Levi, Judá, Dã, Naftali, Gade, Aser, Issacar, Zebulom, José e Benjamim (Gên. 29.32-30.24; 35.16-18).
Embora nos pareça despercebido, podemos ver que, pela ordem de nascimento, Judá é o quarto filho e Dã, o quinto. Mais uma pesquisa aqui e ali, e podemos ver que, pouco tempo antes de sua morte, Jacó chama os seus filhos e faz o seu testamento, proferindo o seguinte, a respeito de Dã: “'Dã julgará o seu povo, como uma das tribos de Israel. Dã será serpente junto ao caminho, uma víbora junto à vereda, que morde os calcanhares do cavalo, e faz cair o seu cavaleiro por detrás” (Gên. 49:16-17).

Mais tarde, quando o Senhor liberta Israel do cativeiro egípcio, não permite que eles avancem de qualquer maneira, mas indica como as doze tribos deveriam se posicionar para efeito de marcha e guerra: O primeiro acampamento era formado pelas tribos de Judá, Issacar e Zebulom, sendo Judá a tribo capitânea; O segundo acampamento era formado pelas tribos de Rubem, Simeão e Gade, sendo Rubem a tribo capitânea; O terceiro acampamento era formado pelas tribos de Efraim, Manassés e Benjamim, sendo Efraim a tribo capitânea; o quarto e último acampamento era formado pelas tribos de Dã, Aser e Naftali, sendo Dã a tribo capitânea (Núm. 10.14-27).
A tribo de Levi não acampava como as demais, mas era distribuída pelos quatro acampamentos, sendo que dois grupos, o de Gerson e o de Coate, levitas, conduziam o tabernáculo desmontados e os apetrechos a ele referentes.

É interessante o fato de que o acampamento de Judá era o do comandante de Israel, e seguia à frente do exército, ao passo que o acampamento de Dã era o último a se pôr em marcha.
É significante o destaque para Judá no vaticínio de Jacó: “Judá, teus irmãos te louvarão. a tua mão estará sobre a cerviz de teus inimigos; os filhos de teu pai se prostrarão em tua presença. Judá é leãozinho; da presa subiste, filho meu. Encurva-se e deita-se como leão; e, como leoa, quem o despertará? O cetro não se apartará de Judá, nem o bastão de entre seus pés, até que venha Siló; a ele obedecerão os povos. Ele amarrará o seu jumentinho junto à vide...” (Gên. 49.8-12). Siló, na LXX, é vertido para ‘apokeimena autw’, ou seja, ‘o que está reservado para ele’ ou ‘aquele a quem pertence por direito’.
Em contraste, o acampamento de Dã segue por último, como a ‘morder o calcanhar do cavalo e fazer cair o cavaleiro’.

No cisma de Israel, Jeroboão ficou com as dez tribos do Norte, e logo pôs um bezerro em Betel e outro em Dã, com o objetivo de fazer seu povo esquecer o Deus de Abraão, Isaque e Jacó. Adorar estas imagens era uma abominação para Israel e ira para seu Deus – Yahveh. Todavia, nos dias de Josias Betel foi restaurada como casa de adoração a Yahveh, o que não aconteceu com Dã, cidade principal da tribo do mesmo nome, que permaneceu idólatra, mesmo depois da restauração de Josias. A respeito da culpa de Samaria, o profeta Amós assim declara: “Os que juram pela culpa de Samaria, dizendo: Vive o teu deus, ó Dã; e vive o caminho de Berseba; esses mesmos cairão, e não se levantarão jamais” (Amós 8:14). E o profeta Oseias assim profere: “O teu bezerro, ó Samaria, te rejeitou; a minha ira se acendeu contra eles; até quando serão eles incapazes da inocência? Porque isso vem de Israel, um artífice o fez, e não é Deus; mas em pedaços será desfeito o bezerro de Samaria” (Oz. 8.5-6).

Em I Reis 12:26-30. Lemos: “'E disse Jeroboão no seu coração: Agora tornará o reino à casa de Davi. Se este povo subir para fazer sacrifícios na casa do Senhor, em Jerusalém, o coração deste povo se tornará a seu senhor, a Roboão, rei de Judá; e me matarão, e tornarão a Roboão, rei de Judá. Assim o rei tomou conselho, e fez dois bezerros de ouro; e lhes disse: Muito trabalho vos será o subir a Jerusalém; vês aqui teus deuses, ó Israel, que te fizeram subir da terra do Egito. E pôs um em Betel, e colocou o outro em Dã. E este feito se tornou em pecado; pois que o povo ia até Dã para adorar o bezerro”. E ainda em Juízes 8:30, temos: “os filhos de Dã levantaram para si aquela imagem de escultura...”. A Escritura demonstra que Dã se afastou dos caminhos de Deus, dando lugar ao paganismo e à idolatria.

Um dos livros apócrifos dos hebreus fala de uma grande tragédia em Israel, onde uma tribo quase foi apagada e uma já não mais existia, tendo sido seu povo levado para bem longe e não mais retornando, como as demais, após o cativeiro babilônico. A quase apagada foi Benjamim, no tempo dos juízes; a outra, extinta, foi Dã.

Na visão apocalíptica, João contempla as doze tribos de Israel que, após a grande vitória cabal sobre o pecado, têm a entrada triunfal na Nova Jerusalém, isto é, aquelas que foram seladas por Deus, livres das marcas do pecado e destruição final. São elas: Judá, Rubem, Gade, Aser, Naftali, Manassés, Simeão, Levi, Issacar, Zebulom, José, Benjamim (Apoc. 7.5-8). Levi volta a seu lugar entre as doze, assim como José que cedera lugar a seus dois filhos, Efraim e Manassés, sendo que Manassés ganha o lugar de Dã, considerada a tribo apóstata.

Por outro lado, temos a pessoa de Judas, um dos doze, que também se tornou apóstata, desviando-se para o “seu próprio lugar”. Assim como em Israel, uma tribo se perdeu (não os danitas) e deixou de estar com as doze no Reino de Deus, assim também Judas se perdeu, deixando de estar no Reino de Deus.
E o bode expiatório que era levado ao Deserto, para Azazel? Seria uma representação prévia de Judas em seu ‘ministério’? Afinal, ele era pareado com o bode da remissão, que era sacrificado pelo sumo sacerdote; Em ambos o sacerdote colocava a mão sobre suas cabeças, sendo um imolado e o outro levado para Azazel. Jesus foi sacrificado para nossa remissão, ao passo que Judas foi para “seu próprio lugar”.

Pr Wilson Lima    

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