Há algum tempo, recebi um folheto das Testemunhas de Jeová, intitulado “Quem é Jeová?” Ao lê-lo, verifiquei que havia alguma coisa boa, como nos orienta o apóstolo Paulo. Todavia, ao examiná-lo, deparei com uma declaração não convincente à luz de uma exegese sólida, feita sem tendencionismos.
Discorrendo sobre o significado do nome de Deus – Jeová – o autor daquelas linhas assim se expressou: “O nome divino é escrito com quatro letras hebraicas hwhy e .....é considerado ser a forma causativa do verbo hebraico hawah (vir a ser; tornar-se) e por isso significa ‘Ele Causa que Venha Ser’. Em outras palavras, “Jeová se torna o que quer que seja necessário para realizar seus propósitos...”.
Diante de tal afirmação, resolvi contestar o escritor, com argumentos de uma exegese bíblica feita à luz das Escrituras Sagradas.
O fato é que na primeira vez em que Deus se apresenta ao homem com seu “nome” é a Moisés, no monte Horebe. E o faz, usando, ao que tudo indica, uma forma verbal aramaica e não hebraica. A Bíblia Hebraica atual, de cunho sefarádico, registra a declaração divina empregando o verbo atual, que é com yod (hayah) e não com vav (hawah). Isto pode ser explicado pela transição do legado caldaico-aramaico à lingüística hebraica, já que em toda a Bíblia e nos escritos judaicos o verbo predominantemente empregado é com Yod (hayah).
O Senhor declara a Moisés – Ehveh asher Ehveh – literalmente, “Serei o que Serei”, ou, na lingüística vernácula, “Sou o que Sou”, empregando, para tanto, a primeira pessoa do singular AHWH (Lê-se Ehveh) [o primeiro “h” é levemente aspirado].
Ao confrontar-se com Faraó e, evidentemente, com os líderes hebreus, Moisés, quer por reverência ou por interpretações lingüísticas, dada a força do verbo na comunicação das línguas antigas (a raiz primeira é sempre a verbal, donde procedem os substantivos, os adjetivos e os advérbios), quebrou esta comunicação direta, trazendo o verbo para a terceira pessoa, donde Yhveh (Ele é) [o primeiro “h” é levemente aspirado].
Tanto a primeira como a terceira pessoas do verbo hawah ou hayah estão na forma qal, a primeira voz na escala intensiva da verbática hebraica, aramaica, caldaica e árabe, além de outras línguas semíticas correlatas, o que significa que pode haver implicações transitivas diretas, indiretas ou até intransitivas, jamais causativas.
Pode haver inferências causativas no piel, no hithpael e em suas formas correlatas do aramaico e árabe, como é próprio do hiphil que é essencialmente causativo, e, em casos especiais, no niphal, mas jamais no qal.
Jeová jamais “vem a ser” no sentido do verbo original; “Ele é”, como entendeu Moisés.
Os hebreus acabaram por quebrar ainda mais a comunicação do Nome ao representar Yhveh de forma tetragrâmica, Yehovah. A reverência supina ao nome de Deus contrasta com a reverência que os hebreus deram ao dono do nome. Até as letras Vav, Yod e He são trocadas, na representação dos números 15 e 16 para “não ferir essa reverência”.
Do exposto, verifica-se que tal afirmação, contida no citado folheto, é “equívoca”, não condizente com a Verdade da Palavra de Deus.
Wilson Lima, Pr, Prof de Hebraico e Metodologia Exegética do AT. no STBML e Prof de Hebraico, Crítica Textual do AT e Exegese do AT no STRG.